A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM A LINGUAGEM NATUREZA NA EDUCAÇÃO
INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA
RESUMO
Este artigo
trata de um estudo teórico-empírico acerca da importância do contato da criança
da Educação Infantil com ambientes naturais. Enfatizamos aqui o argumento de
que as crianças na sociedade do consumo são afastadas de uma convivência com a
natureza e por isso se torna necessário o trabalho pedagógico com essa
linguagem de forma que reaproxime a criança ao meio natural. Porquanto, o
artigo ora apresentado, sustenta-se em duas vertentes: a) revisão teórica da
temática e, b) relato das experiências e dos resultados alcançados através da
execução de um projeto de intervenção em uma escola de Educação Infantil de
Maceió. Tal reflexão nos permite inferir que: a partir do contato com ambientes
naturais a criança começará a conhecer a natureza e aprender a preservá-la
compreendendo que cuidar da natureza é valorizar a vida.
Palavras Chave: Educação Infantil. Linguagem Natureza. Criança
e Meio Natural.
1. INTRODUÇÃO
O
presente artigo é fruto das observações e intervenções realizadas no campo de
estágio supervisionado em Educação Infantil, realizado em uma escola municipal
de Maceió. O objetivo primordial do mesmo consiste em demonstrar as
experiências e novos conhecimentos adquiridos com o contato com esse ambiente
de educação infantil que é uma das áreas de atuação do pedagogo apresentando os
resultados do projeto de intervenção que realizamos na escola sobre a linguagem
natureza.
Sendo assim este artigo
pretende demonstrar a importância da aproximação da criança da Educação
Infantil com ambientes naturais, pois de fato o que se vê atualmente é uma
sociedade de consumo, que gera uma vontade nas crianças de consumir cada vez
mais, gerando uma contínua insatisfação. As crianças crescem assim com vontade
de se apropriar da natureza e não de se conhecer como pertencentes a ela. Léa
Tiriba (2005) já se indaga sobre como aproximar a criança da natureza se há um
desligamento desta do meio natural: “Mas como ensinar a cuidar numa sociedade
que submete os indivíduos, os povos e a natureza aos interesses do mercado?”
(TIRIBA, 2010, p.2)
Portanto este artigo
visa fazer uma abordagem teórico-empirica sobre a necessidade do trabalho com a
natureza no ambiente da educação infantil relatando as metodologias utilizadas
para a aproximação das crianças da escola campo de estagio com ambientes
naturais. Para tanto se optou metodologicamente pelos seguintes procedimentos:
1) Revisão bibliográfica sobre a temática e observação da escola de Educação Infantil
escolhida para o estágio supervisionado, 2) Execução de 10 (dez) intervenções
com uma turma desta escola de educação infantil e 3) Análise dos resultados.
2. NATUREZA E SOCIEDADE: A IMPORTÂNCIA DO
TRABALHO COM ESSA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A aproximação com a
natureza é de fundamental importância no dia-a-dia da criança da educação
infantil. No entanto o contato direto com a natureza, dentro ou fora de sala de
aula, precisa ser estimulado pelo educador. Na maioria das vezes estamos
acostumados apenas a falar da natureza e de sua importância na vida dos seres
humanos e na sociedade, mas não levamos às crianças a tocarem, a sentirem, a
mexerem e aproveitar os recursos que a natureza nos proporciona. Porém
percebemos que as crianças preferem lugares abertos, arejados, amplos e que
haja um contato com o natural.
Acreditamos
que é a partir da vontade de conhecer e da curiosidade das crianças que as
aulas devem ser planejadas. A criança no contato com a natureza faz da terra o
seu castelo, ao olhar o céu vê animais desenhados nas nuvens, desenvolve a
curiosidade ao ver uma simples borboleta, são momentos de eterna admiração.
Buitoni (2006) nos mostra o espaço da escola te - arte no qual as crianças são
inseridas em uma pedagogia orgânica afirmando que o contato com o verde ajuda a
criança a perceber as modificações no ambiente. A autora diz que “Terra, areia,
plantas: é tudo material de arte. A terra para se pisar descalço, cavoucar,
plantar, fazer represas, caminho. O espaço da te - arte é mutante” (BUITONI,
2006, p.40).
Neste
contexto é preciso que haja um engajamento maior por parte dos educadores na
formação das crianças para que estas possam ter uma aproximação e uma interação
maior com o meio natural. Dessa forma o sentimento da criança pela natureza
será desenvolvido e aperfeiçoado. Pois só cuidamos daquilo que amamos.
E as DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais
da Educação Infantil) apresentam a estrutura legal e institucional da Educação
Infantil. Nessas diretrizes a criança é vista como o sujeito do processo de
educação sendo o centro do planejamento curricular no qual ter acesso a espaços
externos e contato com o meio natural, é ampliar a possibilidade de aprender e de
compreender o mundo. Sendo essencial no espaço das instituições de educação
infantil esse contato com o natural, pois como mostra as DCNEI (2009, p. 8).
“Essa valorização se estende á relação com a natureza e os espaços públicos, o
respeito a todas as formas de vida, o cuidado dos seres vivos e a preservação
dos recursos naturais”. Tiriba (2010) também complementa afirmando que:
Cumprir o princípio de respeito ético ao meio
ambiente, afirmado no Artigo 6º das DCNEI, implica compreender que os seres
humanos são parte desta rede, cujo equilíbrio depende de cooperação entre
espécies que se associam que coevoluem há milhões de anos. Quanto maior a rede
de relações, quanto maior a diversidade de espécies, maior a possibilidade de
preservação da terra. (TIRIBA, 2010, p.4).
Isso
significa que temos que garantir as crianças o direito ao acesso a espaços ao
ar livre, pois esse acesso proporciona o desenvolvimento da criatividade, e da
liberdade do brincar. E os ambientes naturais se constituem assim um espaço que
potencializa o desenvolvimento infantil, onde tocar na água, sentir o cheiro da
terra e ver as plantas crescerem faz brotar na criança o sentimento de vínculo
com a natureza.
O desafio de se construir
uma sociedade em harmonia com a natureza é assim possível. Todavia quando
analisamos que romper com a lógica do consumismo é algo complexo percebemos que
é cada vez mais necessário possibilitar uma vivência em equilíbrio entre
sociedade e natureza. E Léa Tiriba (2010, p.3) nos aponta três objetivos para
um projeto pedagógico compromissado com essa preservação da vida: “a) religar
as crianças com a natureza; b) reinventar os caminhos de conhecer; c) dizer não
ao consumismo e ao desperdício”.
Em suma, a natureza é
vida e deve ser respeitada e por isso é um direito da criança sentir e
encantar-se com o que é natural. Pois se as crianças são seres da natureza, precisamos
planejar uma rotina de trabalho que valorize os espaços ao ar livre e que
propicie contato dia-a-dia com o mundo que está para além dos espaços fechados.
“A natureza é a força ativa que criou e que conserva a ordem natural de tudo
quanto existe. É a própria vida, criadora de todos os seres que constituem o
Universo”. (TIRIBA, 2010, p. 06).
3. METODOLOGIA
Através
da análise e das observações na escola campo de estágio verificou-se a preocupação
que a equipe gestora da Escola demonstrou com relação ao trabalho com a
linguagem natureza. Isso resultou na
construção de um projeto de intervenção que aproximasse as crianças da escola
de ambientes naturais. Este projeto foi intitulado Natureza, conhecer para
preservar e teve como objetivo geral despertar a importância do respeito à
natureza através de atividades em sala de aula e ao ar livre possibilitando o
maior contato das crianças do 2º período “B” da escola campo de estágio com
ambientes naturais propondo que elas conhecessem a natureza para aprender a
preservá-la.
Para
tanto se optou por uma metodologia que foi dividida em 10 (dez) intervenções. A
execução de cada intervenção se sucedeu durante dois dias na semana (quarta e
quinta) com duração de uma hora cada intervenção. O público alvo foi uma turma
do 2º período “B” da escola campo de estágio com 20 crianças na faixa etária de
cinco anos. O projeto foi executado através de oficinas, atividades de campo
para o contato com a natureza, materiais expositivos como vídeo e palestra,
trabalhos em grupo, produções artísticas, brincadeiras, jogos e escuta das
vivências desses alunos. Utilizou-se também de filmagem e registro de
fotografias ao longo do projeto com as devidas autorizações dos responsáveis
pelas crianças.
Quadro1:
Desenvolvimento das sessões do projeto de intervenção
1-
Apresentação
da temática do projeto para as crianças e caixa surpresa com jabuti.
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6-Cine natureza: Vídeo a vida secreta das formigas.
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2-
Observação
do ambiente natural da escola com lupas, lanternas e binóculos.
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7- Piquenique de frutas: tocando e saboreando
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3-
Apresentação
da peça a formiga e o grilo.
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8-Passeio ecológico ao Cinturão Verde
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4-
Palestra
com uma estudante de biologia sobre os bichos que despertaram interesse nas
crianças: jabuti, grilo e formiga.
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9-Produção de desenho sobre o que foi visto no passeio ao Cinturão Verde.
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5-
Exposição
de cantinhos ao ar livre.
Lona com livros e
jogos sobre natureza.
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10- Finalização do projeto: Momento
rememorar: Exposição das fotos e filmagens do decorrer do projeto.
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4. RESULTADOS
Durante a execução das intervenções percebemos
o desenvolvimento do sentimento de amizade com a natureza por parte das
crianças e como também pela equipe da escola. Pois o projeto contribuiu não só para
a aproximação das crianças com ambientes naturais, mas como também para a
aproximação dos adultos presentes nas intervenções. Foi assim se constituindo
com o projeto valores de respeito à vida.
E dentre as sessões executadas três se
destacaram pela maior aproximação com a natureza a segunda, sétima e a oitava
descrita na tabela acima. Na segunda sessão de observação do ambiente natural
da escola, as crianças saíram da sala para observar a paisagem natural
utilizando lupas, lanternas e binóculos. Uma das crianças ao usar a lupa para
ver as formigas falou: - “Olha a formiguinha,
está em cima das folhas. Ela é trabalhadora”. Os grilos da escola foram os
que mais despertaram o interesse dos meninos eles observaram e falaram: “O grilo pula e pula de novo”. A execução
desta sessão foi essencial para desenvolvermos o projeto porque através dela
descobrimos o que despertava o interesse das crianças com relação à natureza.
Fig. 1: Crianças
observando o ambiente natural da escola
Na sétima sessão intitulada
piquenique de frutas, organizamos as carteiras em forma de mesa e colocamos
frutas de diferentes sabores. Antes de fazermos o piquenique já havíamos
trabalhado com as crianças o bingo das frutas e a produção de desenho sobre: De
onde vêm as frutas? E com a análise desses conhecimentos prévios das crianças
planejamos o piquenique que foi executado em três etapas: 1) Planejar: cada
criança no círculo ao redor da mesa
disse que fruta gostaria de saborear, 2)Fazer: cada criança saboreou sua
fruta escolhida e logo após as demais frutas e, 3) Rever: Após comerem cada criança contou que fruta mais gostou do
piquenique, qual nunca tinha experimentado e qual fruta não gostou. Eis alguns
comentários das crianças durante o piquenique: “Eu não gostei da pinha porque tem caroço”!(Vinicius)“Eu comi o mamão inteiro! (David) e “Eu nunca comi goiaba, mas eu gostei”
(Mateus).
Fig. 2: Piquenique de frutas com as crianças
Na oitava sessão realizou-se um
passeio externo com as crianças e a equipe da escola ao Cinturão Verde uma
reserva ecológica da Braskem. Neste passeio as crianças puderam ter contato com
um ambiente natural diferente do da escola e com uma diversidade de espécies da
fauna e da flora. Durante a visita a reserva um guia foi explicando as crianças
os cuidados que devemos ter com a natureza. As crianças caminhavam rapidamente
ao ver o sagüi que pulava de galho em galho e ficaram entusiasmadas com o pavão
e as emas. No percurso do passeio registrou-se as seguintes falas das crianças:
“Eu vi um jacaré grande e outros pequenininhos acho que era os filhotinhos”
(Sidney) e “O macaco é engraçado e come banana” (Luana).
Fig. 3: Passeio ecológico ao Cinturão Verde
Ao final do projeto foi possível observar os
avanços comportamentais e atitudinais que as crianças desenvolveram ao longo do
processo de execução das intervenções. Esses avanços foram percebidos pela
própria equipe gestora da escola e como também pelos estagiários. Em uma das
sessões a coordenadora da escola nos contou que ouviu no intervalo dois meninos
conversando: _Ele morreu ontem! E a
outra criança respondeu: _Não morreu não,
eu salvei ele e coloquei na folha para viver! A coordenadora da escola
afirmou que pensou que as crianças estivessem falando de uma pessoa, mas depois
descobriu que era do grilo e acrescentou: “O
projeto mostra resultados, pois as crianças estão mais curiosas e cuidadosas
com relação à natureza”.
As
crianças conseguiram assim ter um maior contato com a natureza identificando
novas espécies de animais e plantas e esse contato com o natural possibilitou o
desenvolvimento do respeito à natureza alcançando os objetivos propostos pelo
projeto onde as crianças conheceram e aprenderam a preservar.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao
longo dos tempos o ser humano vem modificando a natureza de acordo com suas
necessidades e essas alterações acabam afastando as crianças de ambientes
naturais e levando-as a pensar que os recursos da natureza são infinitos. Por
isso cada vez mais se torna importante a prática de estratégias pedagógicas que
religem as crianças a natureza. O processo educativo nas instituições de
educação infantil pode assim possibilitar o desenvolvimento de uma visão que
valorize as questões ambientais de forma que garanta uma melhor qualidade de
vida a todos os seres vivos.
O que trouxemos como
constatação é que a realidade de uma instituição de educação infantil é
bastante dinâmica. Sendo assim um espaço propício para o trabalho com a
linguagem natureza, pois a curiosidade é uma característica do público
infantil. A infância é a fase das buscas e das sensações onde é possível
proporcionar um processo de religação entre ser humano e natureza. Portanto o
trabalho com a linguagem natureza na Educação Infantil levará a criança a
crescer envolvida em uma ética do respeito e da preservação da biodiversidade
de forma que valorize e cuide de todas as formas de vida.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Educação. Revisão das Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educação Infantil. 2009.
_______. Parâmetros
nacionais de qualidade para a Educação Infantil. Secretaria de Educação
Básica. Brasília-DF, volume 2, 2006.
BUITONI, Dulcilia
Shoroeder. De volta ao quintal mágico: a
educação infantil na te-arte. São
Paulo: Ágora, 2006.
TIRIBA,
Léa. Crianças, natureza e educação
infantil / Léa Tiriba; orientador: Leandro Konder. – Rio de Janeiro:
PUC-Rio, Departamento de Educação, 2005.
______. Crianças da natureza. Coordenação
de Educação Infantil/COEDI/SEF/MEC: Ago/2010.
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