segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Natureza - A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM A LINGUAGEM NATUREZA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM A LINGUAGEM NATUREZA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: RELATO DE EXPERIÊNCIA

RESUMO
Este artigo trata de um estudo teórico-empírico acerca da importância do contato da criança da Educação Infantil com ambientes naturais. Enfatizamos aqui o argumento de que as crianças na sociedade do consumo são afastadas de uma convivência com a natureza e por isso se torna necessário o trabalho pedagógico com essa linguagem de forma que reaproxime a criança ao meio natural. Porquanto, o artigo ora apresentado, sustenta-se em duas vertentes: a) revisão teórica da temática e, b) relato das experiências e dos resultados alcançados através da execução de um projeto de intervenção em uma escola de Educação Infantil de Maceió. Tal reflexão nos permite inferir que: a partir do contato com ambientes naturais a criança começará a conhecer a natureza e aprender a preservá-la compreendendo que cuidar da natureza é valorizar a vida.

Palavras Chave: Educação Infantil. Linguagem Natureza. Criança e Meio Natural.

1. INTRODUÇÃO
                        O presente artigo é fruto das observações e intervenções realizadas no campo de estágio supervisionado em Educação Infantil, realizado em uma escola municipal de Maceió. O objetivo primordial do mesmo consiste em demonstrar as experiências e novos conhecimentos adquiridos com o contato com esse ambiente de educação infantil que é uma das áreas de atuação do pedagogo apresentando os resultados do projeto de intervenção que realizamos na escola sobre a linguagem natureza.
                        Sendo assim este artigo pretende demonstrar a importância da aproximação da criança da Educação Infantil com ambientes naturais, pois de fato o que se vê atualmente é uma sociedade de consumo, que gera uma vontade nas crianças de consumir cada vez mais, gerando uma contínua insatisfação. As crianças crescem assim com vontade de se apropriar da natureza e não de se conhecer como pertencentes a ela. Léa Tiriba (2005) já se indaga sobre como aproximar a criança da natureza se há um desligamento desta do meio natural: “Mas como ensinar a cuidar numa sociedade que submete os indivíduos, os povos e a natureza aos interesses do mercado?” (TIRIBA, 2010, p.2)
                        Portanto este artigo visa fazer uma abordagem teórico-empirica sobre a necessidade do trabalho com a natureza no ambiente da educação infantil relatando as metodologias utilizadas para a aproximação das crianças da escola campo de estagio com ambientes naturais. Para tanto se optou metodologicamente pelos seguintes procedimentos: 1) Revisão bibliográfica sobre a temática e observação da escola de Educação Infantil escolhida para o estágio supervisionado, 2) Execução de 10 (dez) intervenções com uma turma desta escola de educação infantil e 3) Análise dos resultados.

2. NATUREZA E SOCIEDADE: A IMPORTÂNCIA DO TRABALHO COM ESSA LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO INFANTIL
                        A aproximação com a natureza é de fundamental importância no dia-a-dia da criança da educação infantil. No entanto o contato direto com a natureza, dentro ou fora de sala de aula, precisa ser estimulado pelo educador. Na maioria das vezes estamos acostumados apenas a falar da natureza e de sua importância na vida dos seres humanos e na sociedade, mas não levamos às crianças a tocarem, a sentirem, a mexerem e aproveitar os recursos que a natureza nos proporciona. Porém percebemos que as crianças preferem lugares abertos, arejados, amplos e que haja um contato com o natural.
Acreditamos que é a partir da vontade de conhecer e da curiosidade das crianças que as aulas devem ser planejadas. A criança no contato com a natureza faz da terra o seu castelo, ao olhar o céu vê animais desenhados nas nuvens, desenvolve a curiosidade ao ver uma simples borboleta, são momentos de eterna admiração. Buitoni (2006) nos mostra o espaço da escola te - arte no qual as crianças são inseridas em uma pedagogia orgânica afirmando que o contato com o verde ajuda a criança a perceber as modificações no ambiente. A autora diz que “Terra, areia, plantas: é tudo material de arte. A terra para se pisar descalço, cavoucar, plantar, fazer represas, caminho. O espaço da te - arte é mutante” (BUITONI, 2006, p.40).
Neste contexto é preciso que haja um engajamento maior por parte dos educadores na formação das crianças para que estas possam ter uma aproximação e uma interação maior com o meio natural. Dessa forma o sentimento da criança pela natureza será desenvolvido e aperfeiçoado. Pois só cuidamos daquilo que amamos.
                        E as DCNEI (Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Infantil) apresentam a estrutura legal e institucional da Educação Infantil. Nessas diretrizes a criança é vista como o sujeito do processo de educação sendo o centro do planejamento curricular no qual ter acesso a espaços externos e contato com o meio natural, é ampliar a possibilidade de aprender e de compreender o mundo. Sendo essencial no espaço das instituições de educação infantil esse contato com o natural, pois como mostra as DCNEI (2009, p. 8). “Essa valorização se estende á relação com a natureza e os espaços públicos, o respeito a todas as formas de vida, o cuidado dos seres vivos e a preservação dos recursos naturais”. Tiriba (2010) também complementa afirmando que:
                       
 Cumprir o princípio de respeito ético ao meio ambiente, afirmado no Artigo 6º das DCNEI, implica compreender que os seres humanos são parte desta rede, cujo equilíbrio depende de cooperação entre espécies que se associam que coevoluem há milhões de anos. Quanto maior a rede de relações, quanto maior a diversidade de espécies, maior a possibilidade de preservação da terra. (TIRIBA, 2010, p.4).

                   Isso significa que temos que garantir as crianças o direito ao acesso a espaços ao ar livre, pois esse acesso proporciona o desenvolvimento da criatividade, e da liberdade do brincar. E os ambientes naturais se constituem assim um espaço que potencializa o desenvolvimento infantil, onde tocar na água, sentir o cheiro da terra e ver as plantas crescerem faz brotar na criança o sentimento de vínculo com a natureza.
                        O desafio de se construir uma sociedade em harmonia com a natureza é assim possível. Todavia quando analisamos que romper com a lógica do consumismo é algo complexo percebemos que é cada vez mais necessário possibilitar uma vivência em equilíbrio entre sociedade e natureza. E Léa Tiriba (2010, p.3) nos aponta três objetivos para um projeto pedagógico compromissado com essa preservação da vida: “a) religar as crianças com a natureza; b) reinventar os caminhos de conhecer; c) dizer não ao consumismo e ao desperdício”.
                        Em suma, a natureza é vida e deve ser respeitada e por isso é um direito da criança sentir e encantar-se com o que é natural. Pois se as crianças são seres da natureza, precisamos planejar uma rotina de trabalho que valorize os espaços ao ar livre e que propicie contato dia-a-dia com o mundo que está para além dos espaços fechados. “A natureza é a força ativa que criou e que conserva a ordem natural de tudo quanto existe. É a própria vida, criadora de todos os seres que constituem o Universo”. (TIRIBA, 2010, p. 06).

3. METODOLOGIA
Através da análise e das observações na escola campo de estágio verificou-se a preocupação que a equipe gestora da Escola demonstrou com relação ao trabalho com a linguagem natureza.  Isso resultou na construção de um projeto de intervenção que aproximasse as crianças da escola de ambientes naturais. Este projeto foi intitulado Natureza, conhecer para preservar e teve como objetivo geral despertar a importância do respeito à natureza através de atividades em sala de aula e ao ar livre possibilitando o maior contato das crianças do 2º período “B” da escola campo de estágio com ambientes naturais propondo que elas conhecessem a natureza para aprender a preservá-la.
Para tanto se optou por uma metodologia que foi dividida em 10 (dez) intervenções. A execução de cada intervenção se sucedeu durante dois dias na semana (quarta e quinta) com duração de uma hora cada intervenção. O público alvo foi uma turma do 2º período “B” da escola campo de estágio com 20 crianças na faixa etária de cinco anos. O projeto foi executado através de oficinas, atividades de campo para o contato com a natureza, materiais expositivos como vídeo e palestra, trabalhos em grupo, produções artísticas, brincadeiras, jogos e escuta das vivências desses alunos. Utilizou-se também de filmagem e registro de fotografias ao longo do projeto com as devidas autorizações dos responsáveis pelas crianças.
Quadro1: Desenvolvimento das sessões do projeto de intervenção
1-                 Apresentação da temática do projeto para as crianças e caixa surpresa com jabuti.
6-Cine natureza: Vídeo a vida secreta das formigas.
2-                 Observação do ambiente natural da escola com lupas, lanternas e binóculos.
7- Piquenique de frutas: tocando e saboreando
3-                 Apresentação da peça a formiga e o grilo.
8-Passeio ecológico ao Cinturão Verde
4-                 Palestra com uma estudante de biologia sobre os bichos que despertaram interesse nas crianças: jabuti, grilo e formiga.
9-Produção de desenho sobre o que foi visto no passeio ao Cinturão Verde.

5-                 Exposição de cantinhos ao ar livre.
Lona com livros e jogos sobre natureza.
10- Finalização do projeto: Momento rememorar: Exposição das fotos e filmagens do decorrer do projeto.

4. RESULTADOS
Durante a execução das intervenções percebemos o desenvolvimento do sentimento de amizade com a natureza por parte das crianças e como também pela equipe da escola. Pois o projeto contribuiu não só para a aproximação das crianças com ambientes naturais, mas como também para a aproximação dos adultos presentes nas intervenções. Foi assim se constituindo com o projeto valores de respeito à vida.
E dentre as sessões executadas três se destacaram pela maior aproximação com a natureza a segunda, sétima e a oitava descrita na tabela acima. Na segunda sessão de observação do ambiente natural da escola, as crianças saíram da sala para observar a paisagem natural utilizando lupas, lanternas e binóculos. Uma das crianças ao usar a lupa para ver as formigas falou: - “Olha a formiguinha, está em cima das folhas. Ela é trabalhadora”. Os grilos da escola foram os que mais despertaram o interesse dos meninos eles observaram e falaram: “O grilo pula e pula de novo”. A execução desta sessão foi essencial para desenvolvermos o projeto porque através dela descobrimos o que despertava o interesse das crianças com relação à natureza.
                          Fig. 1: Crianças observando o ambiente natural da escola
            Na sétima sessão intitulada piquenique de frutas, organizamos as carteiras em forma de mesa e colocamos frutas de diferentes sabores. Antes de fazermos o piquenique já havíamos trabalhado com as crianças o bingo das frutas e a produção de desenho sobre: De onde vêm as frutas? E com a análise desses conhecimentos prévios das crianças planejamos o piquenique que foi executado em três etapas: 1) Planejar: cada criança no círculo ao redor da mesa  disse que fruta gostaria de saborear, 2)Fazer: cada criança saboreou sua fruta escolhida e logo após as demais frutas e, 3) Rever: Após comerem  cada criança contou que fruta mais gostou do piquenique, qual nunca tinha experimentado e qual fruta não gostou. Eis alguns comentários das crianças durante o piquenique: “Eu não gostei da pinha porque tem caroço”!(Vinicius)“Eu comi o mamão inteiro! (David) e “Eu nunca comi goiaba, mas eu gostei” (Mateus).
Fig. 2: Piquenique de frutas com as crianças
            Na oitava sessão realizou-se um passeio externo com as crianças e a equipe da escola ao Cinturão Verde uma reserva ecológica da Braskem. Neste passeio as crianças puderam ter contato com um ambiente natural diferente do da escola e com uma diversidade de espécies da fauna e da flora. Durante a visita a reserva um guia foi explicando as crianças os cuidados que devemos ter com a natureza. As crianças caminhavam rapidamente ao ver o sagüi que pulava de galho em galho e ficaram entusiasmadas com o pavão e as emas. No percurso do passeio registrou-se as seguintes falas das crianças: “Eu vi um jacaré grande e outros pequenininhos acho que era os filhotinhos” (Sidney) e “O macaco é engraçado e come banana” (Luana).
Fig. 3: Passeio ecológico ao Cinturão Verde
            Ao final do projeto foi possível observar os avanços comportamentais e atitudinais que as crianças desenvolveram ao longo do processo de execução das intervenções. Esses avanços foram percebidos pela própria equipe gestora da escola e como também pelos estagiários. Em uma das sessões a coordenadora da escola nos contou que ouviu no intervalo dois meninos conversando: _Ele morreu ontem! E a outra criança respondeu: _Não morreu não, eu salvei ele e coloquei na folha para viver! A coordenadora da escola afirmou que pensou que as crianças estivessem falando de uma pessoa, mas depois descobriu que era do grilo e acrescentou: “O projeto mostra resultados, pois as crianças estão mais curiosas e cuidadosas com relação à natureza”.
            As crianças conseguiram assim ter um maior contato com a natureza identificando novas espécies de animais e plantas e esse contato com o natural possibilitou o desenvolvimento do respeito à natureza alcançando os objetivos propostos pelo projeto onde as crianças conheceram e aprenderam a preservar.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
            Ao longo dos tempos o ser humano vem modificando a natureza de acordo com suas necessidades e essas alterações acabam afastando as crianças de ambientes naturais e levando-as a pensar que os recursos da natureza são infinitos. Por isso cada vez mais se torna importante a prática de estratégias pedagógicas que religem as crianças a natureza. O processo educativo nas instituições de educação infantil pode assim possibilitar o desenvolvimento de uma visão que valorize as questões ambientais de forma que garanta uma melhor qualidade de vida a todos os seres vivos.
                        O que trouxemos como constatação é que a realidade de uma instituição de educação infantil é bastante dinâmica. Sendo assim um espaço propício para o trabalho com a linguagem natureza, pois a curiosidade é uma característica do público infantil. A infância é a fase das buscas e das sensações onde é possível proporcionar um processo de religação entre ser humano e natureza. Portanto o trabalho com a linguagem natureza na Educação Infantil levará a criança a crescer envolvida em uma ética do respeito e da preservação da biodiversidade de forma que valorize e cuide de todas as formas de vida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL, Ministério da Educação. Revisão das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 2009.
_______. Parâmetros nacionais de qualidade para a Educação Infantil. Secretaria de Educação Básica. Brasília-DF, volume 2, 2006.
BUITONI, Dulcilia Shoroeder. De volta ao quintal mágico: a educação infantil na te-arte. São Paulo: Ágora, 2006.
TIRIBA, Léa. Crianças, natureza e educação infantil / Léa Tiriba; orientador: Leandro Konder. – Rio de Janeiro: PUC-Rio, Departamento de Educação, 2005.

______. Crianças da natureza. Coordenação de Educação Infantil/COEDI/SEF/MEC: Ago/2010.

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