sábado, 21 de novembro de 2015

Linguagem Matemática

RELATO DE UMA PRÁTICA DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA


Na execução do Projeto Aprender Brincando: O Mundo Mágico da Matemática explorou-se atividades que evidenciaram o desenvolvimento de habilidades matemáticas, lembrando que o pensamento lógico da criança se constrói a partir do manuseio de objetos concretos. Desse modo, com a função de medir desenvolveu-se a atividade Eu sou um bonequinho.
No primeiro momento, as crianças foram envolvidas com a música Boneco de Lata, tendo como objetivo desenvolver a coordenação motora ampla, noção espacial, sequenciação, memorização, contagem numérica, esquema corporal. Logo após, sugeriu-se que cada bonequinho (aluno) ficasse em fila, por ordem de tamanho, instigando-os a perceber a noção de maior, de menor, sendo utilizada a balança, a fita métrica para comparar peso, altura dos alunos e o registro escrito dos resultados.
Nesta perspectiva, Sinclair (1989) afirma que,

[...] é preciso considerar que os números são usados no cotidiano com diferentes funções comunicativas: os números de telefones, documentos, cartões bancários têm a função de codificar. Já nas receitas, balanças, fita métrica, a função é de medir. Enquanto que no elevador os números aparecem para ordenar e nas embalagens, quando expressam o número de objetos que contêm, apresentam a função de quantificar.

O trabalho com sistema monetário foi outra atividade proposta, com a função de medir, evidenciando o jogo simbólico caracterizado por Piaget (1976), tendo ainda a finalidade de oportunizar ao aluno uma relação entre a matemática que se ensina na escola e aquela que o mesmo já conhece e utiliza em diferentes momentos do seu cotidiano, proporcionando-lhe o desenvolvimento de habilidades para fazer cálculos, consumo e para formação empreendedora.
Para evidenciar este contexto significativo, os alunos montaram um supermercado dentro da sala, revivendo cenas do dia-a-dia, para tanto registraram, primeiramente, uma lista das frutas que seriam utilizadas na salada de frutas e cada criança ficou responsável para levar à escola uma qualidade, quantidade de frutas, e ainda, pesquisar com a família num supermercado o valor do seu produto. Eles contribuíram na organização, no cálculo dos preços, sugerindo o valor na etiquetagem das frutas. Depois de todo esse trabalho, houve consenso na escolha de quem seria o vendedor, o dono do supermercado, o gerente, os clientes, momento em que puderam comparar os preços, a quantidade e o peso dos produtos.
Em outra oportunidade, fizeram a salada para reconhecer o valor nutritivo das frutas e o registro final da atividade foi feito através de um gráfico com o resultado da pesquisa sobre o tipo de fruta que os colegas e funcionários da escola preferem. De acordo com D’Ambrósio,

[...] a utilização do cotidiano das compras para ensinar matemática revela prática apreendida fora do ambiente escolar, uma verdadeira etnomatemática do comércio. Um importante componente da etnomatemática é possibilitar uma visão crítica da realidade, utilizando instrumento de natureza matemática (D’ AMBRÓSIO, 2001, p. 23).


Segundo o referido autor, a análise comparativa de preços, de contas, de orçamento, proporciona excelente material pedagógico.
Em relação ao jogo simbólico, também presente nesta atividade, Piaget (1976) aborda que com o aparecimento desse jogo, a criança vai além da simples satisfação de manipulação. Enquanto brinca, amplia seu conhecimento de mundo, porque ela pode fazer de conta que age como os adultos agem. No jogo do “faz de conta” as crianças apresentam diferentes papéis sociais, funções sociais, a partir da observação do mundo dos adultos. Os jogos simbólicos também são usados para a superação de conflitos, atendimento de desejos e para encontrar satisfação fantasiosa.
Além das atividades práticas e lúdicas já mencionadas, foram executados durante o projeto os jogos cooperativos tais como: jogo da memória, dominó, boliche, amarelinha, trilha dos números, bingo de números, escravos-de-jó, entre outros, com objetivo de desenvolver a coordenação motora fina, viso-motora, percepção tátil, visual, agilidade, equilíbrio, observação, memorização, cooperação,
noção espacial, temporal, situações-problema envolvendo subtração, adição, contagem numérica e quantidade.
Segundo Deacove (1974) os jogos cooperativos são jogos com uma estrutura alternativa onde os participantes “jogam uns com os outros ao invés de uns contra os outros”. Nos jogos cooperativos as crianças jogam em uma só equipe, com finalidade comum, é um excelente exercício de integração entre os alunos e todos colaboram obtendo bons resultados, além de contribuírem no desenvolvimento físico, motor, cognitivo dos alunos, ajudam-lhes a ter atenção, concentração, autocontrole.
É interessante salientar que existem os jogos cooperativos e os jogos competitivos. Em relação aos jogos competitivos há perdedores, um aspecto do jogo que merece atenção, pois se acredita que aprender a lidar com o sentimento de derrota faz parte do desenvolvimento infantil tendo em vista, que desde cedo os alunos deparam-se com situações competitivas em suas vidas e o jogo contribui preparando-os para essas vivências. Contudo, diante deste trabalho, não há dúvida do quanto é possível a criança aprender brincando, jogando, divertindo, enfim, sentindo prazer na construção do conhecimento matemático.
Nesse processo o envolvimento do educador é fundamental para a qualidade do ensino. Ele tem o dever de assumir o papel de preparar os alunos para atender à demanda social, para enfrentar situações novas num contexto desafiador. Nesse sentido, oportunizando aos educandos a interação no processo de alfabetização e letramento com criatividade, criticidade, entusiasmo. Como afirma Kishimoto (1993), se o desejo é formar seres criativos, críticos e aptos para tomar decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil com a inserção de brinquedos e brincadeiras.
3. RESULTADOS ALCANÇADOS

Por meio do desenvolvimento de atividades lúdicas no processo de ensino e aprendizagem da Matemática, foram alcançados resultados satisfatórios tanto no aspecto emocional das crianças quanto no aspecto cognitivo.
Para o desenvolvimento do aspecto emocional, foram propostas atividades envolvendo relações interpessoais, levando os alunos a desenvolverem a noção de respeito, de amizade, de cooperação, de senso de coletividade nos trabalhos em grupo. Além disso, oportunizou o despertar o senso crítico, na tomada de decisão através dos jogos simbólicos e dos jogos cooperativos.
Já para o desenvolvimento do aspecto cognitivo, foram exploradas as capacidades envolvendo os números e as operações matemáticas, de forma significa, a exemplo da proposta envolvendo a criação de um Supermercado dentro da sala de aula, que culminou no desenvolvimento da receita de salada de frutas pelas próprias crianças.
O projeto oportunizou, ainda, o despertar do aluno para a pesquisa ao se deparar com situações-problema e para a aplicação de instrumento de coleta de dados em face da pesquisa sobre as frutas que os funcionários da escola mais gostavam. Os dados levantados foram registrados em forma de gráfico para a socialização em evento da escola na Semana do dia da Criança.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, Brasília, 1998.
D’AMBRÓSIO, Ubiratan. Etnomatemática elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? São Paulo, 1976.
KAMII, Constance, Devries, Rheta. Bom Jogos em grupo: o que são eles? In: Jogos em grupo na Educação Infantil. São Paulo: Trajetória Cultural, 1994.
KEIKO KATO, André Maltose. Jogos e brincadeiras. Conexão. São Paulo, 2001.
KISHIMOTO, Tizuko Morchida. Jogos Tradicionais Infantis. São Paulo: Vozes, 1993.
 O Jogo e a Educação Infantil. São Paulo: Pioneira, 2002.
BELO HORIZONTE, Rede Pitágoras. Manual do Professor – Alfabetização - Manual 1 – Rede Pitágoras. Ed. 6.
MONTEIRO, Alexandrina & JUNIOR, Geraldo Pompeu. A matemática e os temas transversais. Moderna, 2001.
NOVA ESCOLA – Educação Infantil. Edição Especial do mês de abril/2006. Fundação Victor Civita, 2006.
PIAGET, Jean. Psicologia e Pedagogia. Trad. Por Dirceu ACCIOLY Lindoso e Rosa Maria Ribeiro da Silva. Forense Universitária: Rio de Janeiro,1976.
SINCLAIR, H. A produção de notações na criança. Porto Alegre: Artmed, 1996.
SPODEK, B. Saracho On. Ensinando crianças de três a oito anos. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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